Sergio Rodrigues

Sergio Rodrigues é um dos grandes expoentes do móvel moderno no mundo, e um dos últimos a nos deixar. Nascido em 1927 no Rio de Janeiro, faleceu na mesma cidade em 2014, ano em que comemorou seis décadas de atuação continuada no design de móveis e na arquitetura.

1955

Em 1955 fundou a Oca, nome que define uma intenção: a de retomar o espírito da simplicidade da casa indígena, integrando passado e presente na cultura material brasileira. Por meio dessa empresa, forneceu parte significativa do mobiliário para os interiores dos prédios da então nascente capital federal, Brasília. No Rio de Janeiro, passou a atender a classe média ávida por objetos que traduzissem o espírito efervescente de uma época em que tudo era “novo”, da Bossa Nova ao Cinema Novo. Além de fábrica, a Oca compreendia um estúdio de arquitetura de interiores, ambientação, cenografia e componentes de decoração aliados a uma galeria de arte e à exposição do mobiliário de sua autoria.

Desde o início as cadeiras de Sergio Rodrigues romperam com o sentar elegante e bem comportado, antecipando a demanda por informalidade que viria a dominar os interiores das casas dos jovens da classe média intelectualizada nos anos 60. Sua criação mais célebre, a Poltrona Mole, de 1957, espelha essa radicalidade. Robusta, ela é composta de estrutura em madeira maciça torneada, percintas de couro e almofadões estofados. A poltrona convida ao relaxamento e ao aconchego, oferecendo um conforto que lembra o da rede, o mais tradicional equipamento da casa brasileira.

“Na Poltrona Mole não se senta, refestela-se”, escreveu o jornalista Sérgio Augusto. Para o sociólogo Odilon Ribeiro Coutinho, ela “tem o dengo e a moleza libertina da senzala”. Em livro de 1975, o crítico e designer Clement Meadmore a considerou “um dos 30 assentos mais importantes do século 20”. Ela recebeu o primeiro prêmio no Concurso Internacional do Móvel em Cantù, Itália, em 1961, onde foi chamada de Sheriff pela firma Isa, de Bérgamo, Itália, que passou a produzi-la e exportá-la para vários países.

Outras obras-chave de sua trajetória são o banco Mocho (acima), de 1954, que se baseia no banquinho de ordenhar vaca; a poltroninha Kilin, de 1973, que também remete à rede; e a poltrona Diz, de 2001, um projeto da sua plena maturidade, apenas em madeira, que permite um extremo conforto ao usuário.

1968

Sergio Rodrigues desligou-se da Oca em 1968 e a partir daí passou a atuar em seu escritório desenvolvendo linhas de móveis, projetos de arquitetura e ambientação de hotéis, residências e escritórios, e sistemas de casas pré-fabricadas. A produção seriada de seus móveis foi retomada em 2001 pela empresa LinBrasil. A partir daí, passou a alcançar grande penetração nos mercados brasileiro e internacional.

Sergio Rodrigues sempre foi um apaixonado pela madeira brasileira. Nos anos 1950 a 1970 usava jacarandá-da-bahia (Dalbergia nigra), espécie extremamente durável e resistente. A partir de 2001, em sua reedição a Lin passou a usar o tauari (Couratari oblongifolia) em móveis fabricados para uso em território nacional e faia (Fagus sylvatica) para o mercado internacional. Profundo conhecedor das técnicas da marcenaria brasileira, ele revela maestria nas soluções construtivas do objeto. Outro material recorrente em seu percurso é o couro, igualmente significativo na tradição brasileira. A palhinha e o metal também se fazem presentes.

2006

Muito fértil, o designer soma mais de 1.200 projetos de móveis, a maioria de cadeiras. Esse número engloba os projetos inseridos em trabalhos de arquitetura de interiores, que não foram reproduzidos depois, tais como os elaborados para a Embaixada do Brasil em Roma, a Universidade de Brasília, o Palácio dos Arcos, o Teatro Nacional de Brasília e a sede da editora Bloch. Sua relevante atuação em arquitetura inclui o projeto de casas de madeira destinadas à pré-fabricação. Foi também um notável desenhista, certamente uma herança do pai, o artista plástico Roberto Rodrigues.

Sergio recebeu diversos prêmios, entre eles o Lapiz de Plata, na Bienal de Arquitetura de Buenos Aires, em 1982, pelo conjunto de sua obra; e o primeiro lugar no 20º Prêmio Museu da Casa Brasileira, em São Paulo, em 2006, pela poltrona Diz (acima). A enciclopédia Delta Larousse o apresenta em um verbete como “o criador do móvel moderno brasileiro”. Sua obra foi tema de várias exposições, não só no Brasil, mas também na Itália, Espanha e Estados Unidos.

Com o objetivo de “preservar o acervo do mestre e disponibilizar para o público em geral, principalmente para estudantes e pesquisadores do Brasil e do mundo, o conjunto de sua obra, bem como promover e incentivar o conhecimento e o diálogo sobre a arquitetura e o design brasileiros”, foi fundado em 2012, no Rio de Janeiro.

saiba mais >>

Linha do tempo móveis Sergio Rodrigues

Haunner
Mocho
1954
Oscar
Lucio
1956
Mole
Mole
1957
Beto
Mucki
Arimello
Cantu
1958
Cantu
Tião Familly
Drummond
Marisa
1959
Mole Sheriff
1961
Luxor
Vronka
Lia
1962
Moleca
Paraty
Magrini
1963
Voltaire
1965
Beg
1967
Jimi
1971
Kilin
1973
Parker
1975
Daav
1983
MAC Familly
1988
Bianca
1993
Katita
Sonia
1997
Nine
2000
Diz
2001